Disciplina - Cinema

Filmes & Educação

14/08/2013

O limiar do cinema como arte e linguagem contra o racismo

Mostra 'Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial' exibe filmes do primeiro negro a fazer longa-metragem nos EUA.

Se o racismo nos Estados Unidos ainda é visível, imagine na década de 1920, quando ainda era aberto e legalizado... Isso não impediu que o filho de ex-escravos Oscar Micheaux dirigisse, em 1919, The Homesteader, o primeiro longa-metragem americano feito por um negro. O filme, baseado em um livro de própria autoria, conta sua experiência como proprietário de terras em Dakota do Sul, no estado de Minnesota, e inaugura o movimento do cinema negro americano.

O diretor que fez 42 filmes em trinta anos ganha agora retrospectiva no Brasil. De 13 a 25 de agosto, Oscar Micheaux: O Cinema Negro e a Segregação Racial exibe 27 títulos no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Serão 10 obras de Micheaux, seis do cineasta e ator Spencer Williams e outros cinco filmes hollywoodianos (Magnólia, O Cantor de Jazz, Imitação da Vida, Uma Cabana no Céu e Aleluia!).

A mostra, que tem curadoria de Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida, também promove, no dia 14 de agosto, um debate com Richard Peña, mestre em Cinema pelo Instituto Tecnológico de Massaschussets e especialista na obra de Micheaux.

Abaixo o preconceito

Nascido em 1884 na cidade de Metropolis, em Illinois, Oscar Micheaux era um dos 13 filhos de um casal de ex-escravos. Mudou-se para Chicago aos 17 anos e trabalhou como carregador. Depois comprou terras em Dakota do Sul e decidiu que voltaria para Chicago para montar sua própria produtora de filmes e editora.

Na Micheaux Films and Book Co, além de dirigir, ele fazia roteiro, produzia e distribuía suas próprias obras. Foi assim que se tornou um dos maiores produtores do movimento conhecido como Race Pictures, caracterizado por filmes de baixíssimo orçamento produzidos por e para negros entre as décadas de 1920 e 1950, auge da segregação racial nos Estados Unidos.

Seus filmes eram a ferramenta que usava para combater o racismo promover a conscientização dos afroamericanos . “Uma das grandes tarefas da minha vida tem sido ensinar que os homens de cor podem ser qualquer coisa”, disse uma vez. E dava o exemplo, como proprietário de terras e cineasta dono de uma produtora/editora.

Em 1915, D.W. Griffith lançou O Nascimento de Uma Nação (que também será exibido na mostra), sobre a vida de duas famílias durante a Guerra da Secessão e a reconstrução dos Estados Unidos. O filme de grande sucesso na época mostra os negros (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de preto) como pessoas estúpidas, preguiçosas e sexualmente agressivas, estereótipos hollywoodianos terrivelmente comuns.

Em resposta, Micheaux fez uma de suas obras mais marcantes: Dentro de Nossas Portas (Within Our Gates), de 1920, que conta a história de Sylvia Landry, uma jovem negra que ajuda a levantar fundos para uma escola que foi palco de um terrível acontecimento no seu passado.

Como o nascimento do Race Movies, os negros tinham, enfim, a possibilidade de falar sobre por e para si mesmos sobre temas diversos, como o casamento entre raças, linchamentos, cinebiografias de afroamericanos famosos, jazz, blues etc.

Também faz parte da mostra O Sangue de Jesus (The Blood of Jesus), sobre um ateu que, acidentalmente, mata a esposa batista.




Notícia retirada do site Rede Brasil Atual. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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